Pensava eu que iria ter um Verão normal como tantos outros que já tinha passado, mas as previsões deste estavam todas ao contrário, as aulas tinham acabado de uma maneira diferente e as férias começado com acontecimentos inesperadamente bons.
No primeiro fim-de-semana de férias, que geralmente era para ficar na cama a descansar nada disso aconteceu. Tive de me levantar cedo, e meter-me dentro do carro com os meus pais rumo a Évora, aqui iria ser o meu primeiro torneio Ibérico, até aqui tudo perfeitamente normal. No entanto, quando cheguei a Évora nada era normal, pensando eu, que quase ninguém ia, foram todas as pessoas que eu menos esperava. Pessoas que eu conhecia e que eu não conhecia, mas, mesmo assim, ninguém que eu conhece-se muito bem.
As pessoas que tinham apadrinhado este torneio, eram muito conhecidas no nosso pequeno mundo desportivo. Ele chama-se Daniel, um senhor entre os vinte e os trinta anos, de estatura média, muito simpático e extremamente divertido e extrovertido, ele era conhecido por ter treinado a madrinha do torneio, e por ser a pessoa que é. Ela uma senhora, também entre os vinte e os trinta, mas um pouco mais nova que ele, muito boa jogadora, menos extrovertida, mas igualmente muito divertida, ela sim, era um dos meus ídolos, alguém que eu achava inalcançável como os grandes jogadores de futebol em que quase ninguém consegue falar com eles, mas eu tinha conseguido, e ela chama-se Filipa. Consegui realizar este sonho graças a uma suposta inimiga, que mais tarde se tornou uma das minhas melhores amigas.
Este torneio abriu-me muitas portas nesse verão, portas que me levaram a conhecer pessoas, treinadores, locais de treino e até outros lugares do país, pela primeira vez tinha andado sozinha no centro de Lisboa de metro com a minha suposta inimiga que de nome tem Rita. Uma coisa tão banal como andar de metro, que para mim era um passo grande já que na minha pequena cidade ou temos a boleia dos pais ou andamos a pé.
Este Verão vai ficar sempre marcado na minha vida, pois foi naquele Verão que conheci três dos meus melhores amigos e foi nesse aí que tive a minha, mais importante experiencia a nível de treinos. Nesse verão fui treinar pela primeira vez a um local chamado Academia de Badminton, um local extremamente diferente, pelo menos para mim, onde os treinos eram adaptados a cada pessoas e os treinadores eram os padrinhos do torneio de Évora, ainda por cima as três pessoas que agora são dos meus melhores amigos, treinavam lá, uma é a Rita, que já falei dela uma rapariga com a minha idade, e com a minha altura, meia aloirada e de olhos castanhos, simpática e divertida, mas muito tímida. A outra rapariga chama-se Mariana, de descendência chinesa, olhos castanhos, cabelo muito liso e escuro, ela desde pequenina que era muito boa jogadora e eu sempre a admirara. A terceira pessoa é um rapaz, alto, mais novo que eu, de cabelo loiro de madeixas ruivas muito divertido mas tímido, este chama-se Ângelo. Aqui tinha conhecido três das seis pessoas mais importantes da minha vida, apoiaram-me sempre, e mesmo sem me conhecerem muito bem, pelo menos, ainda, abriram-me a porta da casa deles e ajudaram-me em tudo.
Eles os três tornaram-se tão importantes, que semanas depois me vi a falar e a conviver com os amigos deles. Mas tudo isto ia-se passando e eu não me apercebia de que tudo ia mudar mais tarde ou mais cedo.
Conheci mais duas raparigas e um rapaz bastante mais tarde, uma delas já sabia quem era de outros torneios, «já era da velha guarda» como se costuma dizer, o nome dela é Sofia, é alta, mais velha, com cabelos e olhos castanhos e extremamente divertida, ela apesar de já a conhecer, foi das ultimas que eu criei uma amizade mais forte, no entanto, agora que é igualmente importante, não faz a mínima diferença se foi a primeira ou a ultima a criar uma amizade mais forte. A outra rapariga chama-se Catarina é a mais velha e mais responsável de todos nós. E ao mesmo tempo a mais parecida comigo, em tudo, fisicamente e psicologicamente, na maneira como falamos, nas coisas que gostamos, nas nossas opiniões e expressões, é como se a irmã mais velha que nunca tive, é a minha conselheira, aquela pessoa que consegue saber tudo sem fazer uma pergunta, pois basta-lhe um olhar para retirar uma frase de quem quer que seja, é das melhores pessoas que alguma vez conheci e vou conhecer, tal como os outros, mas de uma maneira especial, pois é como se uma bonequinha de porcelana mas extremamente forte psicologicamente e extremamente determinada. Ela apesar de ter sido a penúltima pessoa do nosso pequeno grupinho com que me comecei a dar, foi aquela com quem desenvolvi mais rapidamente a nossa amizade, foi aquela com que desde a primeira vez que falei desenvolvi uma maior cumplicidade. A última pessoa com quem me comecei a dar chama-se João, um rapaz não muito alto, um bocadinho mais velho, de olhos e cabelo castanho, é das pessoas com mais humor que alguma vez conheci, claro às vezes torna-se irritante pois o humor que faz é com os erros das outras pessoas, e às vezes nem erros são, mas que até tem alguma piada. Conheci a Catarina no primeiro torneio internacional dela e o João no dia em que iria realizar a minha primeira viagem de avião, apesar de já nos termos falado e visto antes.
Este nosso pequeno grupo foi-se unido cada vez mais, e sem nos apercebermos, agora sempre que existem planos são estes os nomes que são mencionados em primeiro lugar: Rita, Sofia, Catarina, Ângelo, João e Mariana.
Mas como nem tudo podia correr bem, e já estavam a existir rosas e malmequeres a mais, alguém invejoso e que não sabia o que dizia teve de fazer com que a minha vida desse uma volta de 360º.
Treinava na Academia de Badminton em Lisboa uma vez por semana, e encontrava lá sempre as pessoas que me faziam felizes, tantos os treinadores, que antes de serem treinadores eram amigos, como os atletas que lá treinavam que eram sempre tão queridos quando eu, o Ângelo e outro rapaz, o Emanuel, íamos lá treinar, íamos sempre os três juntos até Lisboa, as viagens eram sempre a risota, essas viagens eram um dos motivos pelo qual eu gostava de ir uma vez por semana a Lisboa. As viagens, os treinos, as pessoas, tudo isso fazia com que a semana passa-se mais rápido, pois quando passava esse dia, fazia-se tudo para o tempo andar mais rápido, ou parecer que andava mais rápido. Era o dia, era a viagem, era o local, pelo qual eu todas as semanas ansiava, era aquele dia que me fazia sorrir todos os dias, até que como por magia, me conseguiram tirar esse precioso dia!
Sem saberem as razões pelo qual eu ia treinar todas as semanas a Lisboa, começaram a afastar-me do local onde desde pequena treinara. Desde comentários indelicados a dizer:
- Agora que está lá com os lisboetas deve estar melhor do que connosco.
Ou comentários a dizer:
- Ela não merece estar aqui, se há intrusos, a intrusa é ela, nem pensem que vou aturar pessoas assim.
- Ela não merece estar aqui, se há intrusos, a intrusa é ela, nem pensem que vou aturar pessoas assim.
Ouvia estes comentários e tudo o que me conseguia vir à cabeça era:
- Eu nunca lhes fiz nada, porque é que estão a ser assim para mim. Porque é que isto deu uma volta tão grande.
Os comentários continuaram e o sofrimento era cada vez maior, já não suportava ouvi-los a dizer o que diziam sem saber o que falavam. Até que um dia, se estabeleceu uma imensa discussão, em que o meu nome esta em letras grandes no centro, e eu não conseguia fazer nada para o retirar de lá, e ainda por cima, eu não tinha não feito absolutamente nada, pelo menos, nada de mal. Nessa discussão a única coisa que se ouvia era:
Os comentários continuaram e o sofrimento era cada vez maior, já não suportava ouvi-los a dizer o que diziam sem saber o que falavam. Até que um dia, se estabeleceu uma imensa discussão, em que o meu nome esta em letras grandes no centro, e eu não conseguia fazer nada para o retirar de lá, e ainda por cima, eu não tinha não feito absolutamente nada, pelo menos, nada de mal. Nessa discussão a única coisa que se ouvia era:
- Ela tem de sair de lá, se não, não vai puder ir treinar para onde estamos a programar, ela nunca devia ter ido para lá sem falar connosco, foi a pior coisa que ela alguma vez fez.
E outros que queriam o meu bem diziam:
- Ela foi para lá por convite, e tu sabias bem disso, a única coisa que estás a fazer é a tentar manda-la ir embora daqui, mas não vais conseguir.
O meu nome à volta disto tudo e eu sem saber o que fazer, não sabia o que havia de fazer, mas já estava a prever o final de tudo isto, e foi mesmo como eu previ.
Passadas duas semanas, estava no carro com o Ângelo e com o Emanuel, e a mãe de um deles, quando lhes dei a notícia de que seria a nossa última viagem, as lágrimas vieram-me aos olhos, e toda a alegria que se podia sentir naquela viagem desvanecera. Eu não tinha a culpa de nada do que estava a acontecer e eu não conseguia fazer nada. Nesse dia treinei e no fim falei com o Daniel e com a Filipa, mas tentando não chorar, o que me foi impossível, quando lhes dei a notícia, eles não sabiam o que fazer eu via-os como se lhes tivessem roubado parte de um tapete dos pés, pelo menos naquela altura. Ao mesmo tempo que contei aos meus treinadores, contei aos meus colegas de treino, e foi aí que senti que lhes dei uma grande desilusão. Simplesmente não consegui fazer nada para que isto fosse evitado, e culpabilizei-me durante dias pelo que estava a acontecer, chorei durante vários dias quando olhava para um quadro com os nomes deles.
Passou-se muito tempo, e agora percebo que apesar de me ter afastado, nada mudou, pelo menos quase nada mudou para pior, pelo contrário, mudou para melhor. Unimo-nos e cada vez que estamos juntos damos mais valor aos momentos. Agora que penso bem nas coisas, todas as lágrimas que me escorreram pela face, não foi apenas por deixar um local sem uma pessoa, mas sim, por medo, medo de perder as seis pessoas mais importantes que tenho, mas afinal esse medo era desnecessário, afinal tudo isto só serviu para nos unir, e para fazer de mim a pessoa que sou hoje e para fazer dos meus amigos os amigos que são hoje.
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